Frequentemente o programa “Big Brother Brasil” aparece nas sessões de terapia, principalmente quando alguma polêmica que se inicia na “casa” torna-se ‘debate público’.

Pois então desta vez um dos participantes expressou toda a sua revolta com as “lições de casa”, prática comum nas escolas. Ele disse:

“O cara que criou o dever de casa criou pra punir as crianças e a gente segue achando isso normal”.

A fala soa superficial, mas não é tanto assim. Não sei se teve um “cara” que criou as tais lições de casa, nem se o objetivo primário foi punir as crianças, mas certamente normalizamos essa prática como algo absolutamente necessário para o aprendizado das crianças.

Questionar o “normal” é uma forma de colocarmos em xeque justamente a normalidade da coisa. É chamarmos a atenção para algo que, normalizado, deixou de ser visto com senso crítico.

Parece lógico pensar que, se a criança faz lição de casa, ela aprende mais.

Será?

Este texto não é um artigo científico, não pretendo provar absolutamente nada, mas minha intenção aqui é convidá-los a pensar e, principalmente, pesquisar sobre o tema.

O que a ciência tem dito sobre isso?

É complexo, pois as pesquisas estão delimitadas em contingências que precisam ser consideradas, como o país onde foi realizada a pesquisa, condições socioeconômicas do público participante, a disciplina (matéria) analisada, dentre outros fatores.

Mas, vou compartilhar com vocês algumas conclusões que encontrei pesquisando artigos sobre o tema.

  • Em termos de efetividade no quesito aprendizagem, algumas pesquisas não encontraram uma correlação determinante entre fazer lição de casa e aprender determinado conhecimento. Outras encontraram uma efetividade positiva pequena. E algumas, uma efetividade importante. Contraditório? Não. Como disse, depende de contextos e métodos.
  • Lições de casa frequentemente causam um comportamento aversivo nas crianças em relação ao processo de aprendizagem.
  • O modelo da lição de casa é sentido de diferentes maneiras: É o tal “depende”. E depende do que? Da proposta, é claro. Lições que repetem a prática já realizada na escola se mostram mais aversivas, enquanto lições que se diferem da prática que já ocorre na escola costumam ser mais convidativas.
  • Um estudo bastante amplo demonstrou que crianças que recebem ajuda dos pais para a realização de suas lições frequentemente apresentam desempenho acadêmico inferior em relação às crianças que não recebem ajuda dos pais.

Alguns dos artigos que analisei vocês podem encontrar nesses links: 1 , 2, 3, 4, 5.

Fato é que, analisar este tema nos leva a questionar a “normalização” da prática e, com isso, buscar métodos mais eficientes e adequados ao processo de desenvolvimento da criança.

Penso que fazer “lição de casa” é uma forma de ensinar a criança a estudar fora do ambiente escolar e buscar conhecimento por conta própria. Não vejo muito sentido somente em replicar as mesmas atividades realizadas na escola. Em casa a criança tem outras ferramentas de pesquisa e outros estímulos para dar conta.

Estudar não é um parque de diversões. O ensino não deve se pautar somente no prazer da criança, pois frequentemente estudar não é uma atividade prazerosa, mas é importante mostrar para a criança que o estudo oferece, com o tempo, realizações satisfatórias.

É importante que o estudo faça sentido para que não se torne completamente aversivo. Estudar em casa pode ser uma oportunidade de estimular a curiosidade da criança e assim demonstrar que o conhecimento aprendido não só faz sentido, como é satisfatório.

Fazer lição de casa pode ser uma prática que auxilia no processo de aprendizado, mas não podemos simplesmente negar que essa exigência também pode ser um fator negativo na formação do vínculo da criança com o aprendizado e busca por conhecimento.

Questionar o “normal” aqui é abrir possiblidades de refinarmos esta prática.

E também para refletirmos sobre nossas atitudes, quando cobramos dos filhos que façam lição de casa a todo custo: É efetivo, está ajudando no processo de aprendizado? Quais as reais consequências?

Rafael Ladenthin

psicólogo

www.psipaideia.com.br