Humanismo é um termo que ganhou significado e potência após a segunda guerra mundial, pela urgente necessidade de pensarmos coletivamente em formas de evitarmos situações em que a barbárie se torna prática comum, apoiada em ideais excludentes.

O filósofo Martin Heidegger em uma carta escrita para seu colega Jean Beaufret, abordou a questão do humanismo em uma perspectiva que impactou significativamente o modo de pensar não somente o humanismo, mas também as ciências psicológicas.

O que Heidegger apontou em sua carta é sobre a tendência de pensarmos o ser humano como algo que possa ser caracterizado, generalizado. Esta tendência também se fez e se faz muito presente nas ciências psicológicas, que no uso dos discursos a respeito da existência humana, cria estruturas explicativas rígidas sobre o que é o ser e como devemos cuidar do ser.

O que a reflexão de Heidegger nos oferece é a possibilidade de pensarmos a existência humana em suas possibilidades de ser. E aqui precisamos considerar que o que vivemos, o que experimentamos em nossa vida é o que permeia o mundo ao nosso redor, com uma história, uma cultura, situações que nos impactam e perfazem a nossa formação.

As ciências psicológicas estão muito presentes hoje na maneira como lidamos com situações cotidianas. Suas classificações, seus diagnósticos, concepções de saúde, de comportamento. Discursos que agem como uma forma de autoridade, que na expressão do profissional, do especialista, é tomada como verdade e direcionada como prática.

A psicologia humanista é fundamentalmente e radicalmente oposta a qualquer tentativa de caracterizar o ser de acordo com pressupostos discursivos, de acordo com ideias sobre o que é e como se comporta o ser humano. A psicologia humanista acolhe a percepção de que o ser é como é de acordo com uma relação única com seu mundo. Cuidar do ser é compreender o ser em seu modo próprio de existir.

A psicologia humanista não visa diagnosticar, enquadrar nem generalizar a existência. Seu rigor está justamente no fato de perceber a existência como um acontecimento próprio de cada ser. Cuidar é acolher e, a partir da compreensão daquilo que é vivido por cada um, saber, a partir do passado, a partir da experiência, como criar, no presente, novas possibilidades, novos caminhos para ressignificar, direcionar a existência.

Um humanismo que acolhe a diferença é um humanismo sensível a ideia de que cada um tem em si uma potência de vida que é única.

Uma psicologia humanista deve ser acolhedora. Deve se despir de preconceitos, deve se despir de tentativas de enquadrar o ser em ideais sobre como devemos ser.

Como afirmou Heidegger, a mais alta dignidade da condição humana é o pertencimento ao ser, ao sentido de ser. Devolver isso a cada um é oferecer a dignidade de cada um poder ser como é. Aberto às possibilidades de ser.

Nesse sentido, a psicologia humanista é radicalmente a favor da diversidade, da dignidade humana e da liberdade de ser.

 

Rafael Ladenthin Menezes

psicólogo

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