Ao nascermos nesse mundo nossos primeiros vínculos são criados por uma necessidade vital. Precisamos sobreviver e dependemos do outro para esta travessia inicial.

Assim, é comum pensarmos que dependemos dos outros para viver, não somente sobreviver. Essa ideia, esse sentimento, pode permear nossas relações, gerando apego, medo e um enrijecimento no modo como nos relacionamos.

Nosso instinto primário de sobrevivência pode nos fixar em expectativas baseadas no que precisamos e se projetar no outro. É esse endurecimento que leva ao apego e a desconfiança. Nessa perspectiva, não vemos o outro como é, mas sim o que projetamos. Apego e medo trabalham como forças que invariavelmente levam ao conflito, quando a expectativa é iludida pela verdade.

A amizade é a potência que nos eleva do nível do instinto ao grau do amor. Esse mistério que nos liga uns aos outros é a revolução da alma que busca, além das próprias necessidades, um sentido próprio para a vida.

A amizade não exige expectativa, mas cria uma relação de entregar e receber. Quem não sabe receber, não vai conseguir entregar. O que recebemos do amigo é o que permite a nós o movimento necessário para dissolvermos nossas certezas, nossas durezas, nossas intransigências. Na diferença, o amigo pode nos mostrar possibilidades.

Se aprendermos a receber, saberemos entregar. E é na potência do nosso ser que encontramos o que oferecer aos nossos amigos. Com nossa presença, um conselho, uma mão que guia ou um simples abraço, fortalecemos o fio que nos liga em tudo o que possibilita que a nossa existência continue se realizando no movimento de seus propósitos.

Nem sempre explicamos o motivo de uma amizade. Existe uma história por trás, mas a razão que mantém nossos laços não precisa ser objetiva nem pautada por nada específico. O que potencializa a amizade é o ato de criar e não o que esperamos de nossos amigos.

Entregar e receber, receber e entregar só exige uma condição prévia: confiança. Pois, é confiando que dissipamos os medos que paralisam nossas possibilidades de sermos juntos. Sem confiança, perdemos os presentes que uma relação de amizade pode proporcionar.

Enrijecidos nos nossos medos, podemos nem perceber que os fios que nos ligam perdem brilho e força. Inconscientes, causamos dor. Dor essa que é o lamento da alma quando deixamos de viver a plenitude que nossos vínculos podem nos oferecer. Dor que ensina que não estamos enxergando algo de essencial.

Amigo não é só o colega de escola, de trabalho, de passeio. A amizade é um modo de Ser, e pode aparecer na relação entre casais, entre pais e filhos, entre professor e aluno, entre terapeuta e paciente. Se profundamente compreendermos o sentido da amizade em nossas vidas, todas as nossas relações podem nos ajudar a caminhar e evoluir. Caminhando junto, confiando, criando, entregando e recebendo.

Por todas as nossas relações,

Que nossos vínculos de amizade se fortaleçam.