“Raciocinava de modo terrível, era pura intuição, não tinha nenhum cuidado em elaborar claramente os conceitos fundamentais e sua relação com as teorias existentes…”

Este é um comentário feito pelo físico Pauli sobre seu colega físico Heisenberg.

Com 23 anos de idade Heisenberg se isolou por alguns dias em uma ilha para tentar compreender os movimentos dos elétrons, seguindo as teorias de Bohr. O enigma a ser desvendado parecia impossível, pois os elétrons se comportavam de maneira estranha: Desapareciam e reapareciam em outro local. Nenhum modelo matemático dava conta de explicar um movimento coerente, padronizado.

Foi então que Heisenberg teve uma intuição que mudou a história. Resolveu se basear somente no que estava sendo observado. Montou um modelo matemático considerando a estranheza do movimento dos elétrons. Era o início da mecânica quântica, ou física quântica.

Mas esta reflexão não é sobre física quântica.

O exemplo de Heisenberg ilustra a questão que quero apresentar.

O insight do jovem Heisenberg se desvela em uma consciência que foi buscar no caótico mundo interno dos sentimentos, dos símbolos, das pulsões inconscientes a intuição necessária. Criou assim a conexão fundamental para compreender um problema que exigia o novo. O desprendimento das formas estabelecidas, do conhecido.

Criatividade, coragem e um profundo mergulho. Sua curiosidade, sua obstinação, sua vontade por saber o fez se isolar em uma ilha, passar noites em claro até encontrar o que procurava.

Perceberam como essa inteligência precisou operar? Se pensarmos em outras situações, outras pessoas, inclusive em nós mesmos, não será muito difícil nos darmos conta de que os momentos de plena realização em nossas vidas se dão quando rompemos com o que nos condiciona. Quando somos intuitivos, corajosos.

Então por qual razão educamos crianças e adolescentes a se submeterem estritamente aos modos de pensar de um modelo muito específico oferecido pela escola? Por qual razão pensamos que uma criança está “indo bem” nos seus estudos apenas por conta da obediência e disciplina?

Deveríamos nos preocupar com a falta de vitalidade, do questionamento, da criatividade, com a falta de curiosidade.

Mas estamos bem satisfeitos com o boletim sem recuperação. Ou buscando incessantemente adequar a criança para que se torne bem disciplinada e encaixotada.

Sem perceber que estamos aniquilando a inteligência mais genuína que a criança tem. Sua força de vida, seus dons mais íntimos.

Educamos seres humanos tristes pensando que estamos fazendo o certo.

Imaginem só se Heisenberg tivesse tomado ritalina na infância.

Teria dormido melhor a noite. Não raciocinaria de modo “terrível”. Seria cuidado com as “teorias existentes”.

Não seria Heisenberg. Quanto tempo mais levaríamos para desenvolver a mecânica quântica?